Offline
MENU

Com reforço para a permanência, UEM também é lugar de luta para PcDs
Por Administrador
Publicado em 22/09/2025 09:36
Notícias de Maringá

A Universidade Estadual de Maringá (UEM) tem 555 pessoas com deficiência (PcD) matriculadas em cursos de graduação. Dessas, 132 ingressaram pelo sistema de cotas. Elas representam um pequeno grupo que chega à universidade com expectativa de uma formação superior. Em todo o país, apenas 7,4% das pessoas com deficiência concluíram o ensino superior, frente a 19,5% das pessoas sem deficiência.

No Brasil, 14,4 milhões de pessoas vivem com alguma deficiência, o que representa 7,3% da população com dois anos ou mais. Os dados fazem parte do Censo Demográfico de 2022, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Hoje (21), celebra-se o Dia Nacional de Luta da Pessoa com Deficiência, data instituída para conscientização e respeito às diferenças.

O reitor Leandro Vanalli fez uma referência à data. "Nossa missão, como instituição e sociedade, vai muito além de matricular alunos. É acolher e garantir a permanência de cada estudante, assegurando que a jornada de todos, principalmente a de pessoas com deficiência, seja plena e livre de barreiras. A UEM tem programas essenciais para isso. O Propae é um exemplo, pois acolhe e atende não só pessoas com deficiência, mas também estudantes neurodivergentes e com transtornos mentais. Recentemente, em parceria com o Governo do Estado, adequamos todo o calçamento do campus para garantir a acessibilidade. É crucial ressaltar: essa não é uma conquista, é o cumprimento de nosso dever. É um sinal de respeito."

Na UEM, o acolhimento de PcDs é de responsabilidade do Programa Multidisciplinar de Pesquisa e Apoio à Pessoa com Deficiência e Necessidades Educativas Especiais (Propae). Fruto de reivindicação da comunidade acadêmica, o programa foi criado em 1994 e desde 2016 encontra-se vinculado à Pró-Reitoria de Ensino (PEN). Os estudantes cadastrados têm acesso a locais específicos para fazer provas, com tempo adicional e, ainda, monitorias com bolsistas colegas de curso.

De acordo com o coordenador, Fernando Wolff Mendonça, o Propae tem, atualmente, 60 bolsistas monitores. Dentre os 210 estudantes atendidos, 204 são da graduação e seis da pós-graduação. A maior quantidade de registros é de acadêmicos com Transtorno do Espectro Autista (TEA) e Transtorno do déficit de atenção com hiperatividade (TDAH), respectivamente, 102 e 84. O programa também atende 19 pessoas com deficiência auditiva, 14 pessoas com deficiência física, 14 com deficiência visual e cinco com deficiência intelectual.

Os interessados precisam procurar o programa para requerer o atendimento especializado. O cadastro é por autodeclaração, mas há o registro de laudos para sistematização. O setor também acolhe e atende estudantes neurodivergentes e com transtornos mentais. 

Para o coordenador, o principal desafio ainda é a permanência estudantil. “A entrada de estudantes cresceu exponencialmente, até quatro vezes, mas a questão é dar solidez à permanência, fazer com que essas pessoas não desistam. Porque, infelizmente, a cultura das universidades ainda é muito preconceituosa. Os cursos ainda não estão didaticamente organizados para um atendimento especial, então recebemos acadêmicos que não conseguem acompanhar as disciplinas e entram em sofrimento.”

Isabelle Damaceno da Silveira, estudante do segundo ano do curso de Pedagogia, tem deficiência intelectual e é atendida pelo Propae. “Da primeira vez que eu fiz vestibular, foi nas condições que podia, mas a sala era cheia e barulhenta, as pessoas comiam, não consegui me concentrar. Depois, tentei de novo com tempo adicional e sala especial e foi muito melhor. Fiquei super feliz com a aprovação e gosto muito do curso”, explicou. 

Ao ingressar na universidade, a estudante procurou o Propae com ajuda da família e considera o atendimento essencial para sua permanência no curso. Ela tem monitoria duas vezes por semana e realiza atividades e provas em sala especial. Silveira pretende trabalhar como pedagoga com educação infantil. 

Para Íngrid Lívero, estudante da UEM desde 2015, os obstáculos são físicos. A doutoranda em Letras nasceu com atrofia medular que atingiu os membros inferiores e utiliza cadeira de rodas motorizada para se locomover. Ela ingressou na instituição pelo sistema universal do vestibular e enfrentou muitos desafios e situações constrangedoras ao longo dos anos de graduação em Letras Português-Inglês. 

“Hoje, o câmpus da UEM tem uma acessibilidade muito boa, com calçadas e elevadores que funcionam, mas na época que eu cheguei, a calçada era de pedrinhas e ainda tinha aquele bloqueio para motos nos corredores, o que atrapalhava muito. No primeiro ano, eu me deparei com um bloco com escada e um elevador que nem sempre funcionava. Já aconteceu, por exemplo, de chamaram os seguranças para me levarem pela escada”, conta.

Depois de um requerimento da Diretoria de Assuntos Acadêmicos (DAA), as aulas da turma foram alteradas para um bloco térreo. O mesmo procedimento precisou ser realizado na pós-graduação. Mesmo com as garantias por lei e as conquistas inclusivas, Lívero considera que ainda falta um “olhar mais atento” da educação superior às PcDs.  

Mendonça reconhece que, apesar dos avanços, ainda há alguns obstáculos para os deficientes físicos na UEM, como as longas distâncias, subidas, dentre outros. “Um carrinho de golfe que pudesse circular pelo câmpus, por exemplo, aumentaria a acessibilidade. Além disso, precisamos de recursos para gravações de aulas em Libras, audiodescrições para cegos, tecnologias que já estão no mercado, mas que ainda não temos acesso”, destaca.

No primeiro semestre, a UEM iniciou a reforma de toda a área externa do câmpus sede com recursos de acessibilidade, que incluem calçadas, rampas, corrimãos, piso tátil e placas de sinalização. Com investimento de R$ 2,3 milhões de recursos advindos do Governo do Paraná, os serviços também preveem adaptação de banheiros para o atendimento a Pessoas com Deficiência (PcD) ou com mobilidade reduzida. As obras eram esperadas desde 2012 e serão estendidas aos câmpus regionais. A área total da reforma é de 12.288,40 metros quadrados. 

Mais um dia ou um marco?

Em outubro, o Fórum Estadual das Instituições de Ensino Superior (IES) vai discutir um novo plano estadual de inclusão da pessoa com deficiência. Para Mendonça, o evento é essencial para garantir que órgãos como o Propae passem a ter status administrativo, com possibilidades de planejamento e de orçamento. Para ele, o Dia Nacional de Luta da Pessoa com Deficiência é um marco das conquistas da sociedade.

Para Lívero, as regras garantidas por lei não podem ficar só na teoria. Além disso, ela destaca o olhar para a diversidade. “Muitas vezes a PCD é definida só pelo D, pela deficiência, e o P, a pessoa, é esquecida. Nós carregamos um estereótipo de que a PCD é guerreira, vencedora, o que é legal, mas talvez seja um pouco capacitista, no sentido de que a pessoa não é definida pela deficiência, ela pode ser definida como pessoa mesmo, pelas coisas que gosta e faz”, afirmou.

No mestrado e no doutorado, Lívero estuda análise do discurso, investigando trilhas musicais em filmes de animação e séries de TV sul-coreanas (k-dramas). Segundo ela, não estudar acessibilidade é um choque para muitas pessoas. “Eu tenho lugar de fala, mas isso não significa que quero falar sobre o assunto o tempo todo ou que eu não me interesso por outras coisas. A universidade é diversa e também tem pesquisadores do assunto que não necessariamente são PcDs.”

Ciclo de Debates 

Na segunda-feira (22), a UEM recebe o XIX Ciclo de Estudos Sobre Deficiência, promovido pelo Projeto Arte e Deficiência (PAD): desnaturalizando exclusões, vinculado ao Departamento de Psicologia (DPI), em parceria com o Propae. O evento será no auditório do bloco B33, às 19h, e é aberto à comunidade interna e externa. 

Com o tema “Autismo e desafios de inclusão: problematizações necessárias”, o objetivo é discutir os marcadores sociais e as implicações para a inclusão de pessoas com deficiência e necessidades específicas no acesso a direitos e participação social. Os interessados podem se inscrever por formulário eletrônico. O evento é gratuito e dá direito à certificação.

Serviço 

Estudantes, docentes ou servidores que necessitem de assistência ou orientação podem procurar o O Propae, localizado no bloco B33, sala 3. O telefone para contato é o (44) 3011-4448 e o e-mail é sec-propae@uem.br. Para mais informações, também é possível consultar a página do Propae no site da PEN ou o perfil do programa no Instagram. Desde 2023, a UEM reserva 5% das vagas de cada curso para pessoas com deficiência tanto nos vestibulares, quanto no Processo de Avaliação Seriada (PAS) e no Sistema de Seleção Unificada (Sisu).  

(Mônica Chagas/Comunicação UEM)

Comentários
Comentário enviado com sucesso!